Sem palavras…

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O médium mineiro Francisco Cândido Xavier, desencarnado em 30 de junho de 2002, era conhecido por sua paciência, pela atenção com que recebia e atendia cada pessoa que o buscava.

Certa ocasião, atendendo à fila interminável, sentado, na mesma posição, por horas seguidas, aproximou-se dele uma senhora magra, de estatura mediana.

Trazia os olhos vermelhos de onde rolava um rio de lágrimas, que ela não conseguia conter. Tomou uma das mãos do velho servidor de Jesus e falou: Seu Chico, me ajude. Não aguento mais tanto sofrimento.

Com a voz mansa, repassada de ternura, sem pressa alguma, o apóstolo do bem, perguntou: O que se passa, minha filha? Conte-me.

É coisa demais, falou a senhora, ainda chorosa. Fiquei viúva, há alguns anos. Meu marido se foi. Deixou-me duas filhas pequenas. Parecia que aquela dor da partida dele, o vazio que ele deixou em minha vida não acabaria nunca.

No entanto, os anos foram acalmando a minha dor. Mas, triste, me afastei de tudo. As meninas cresceram. Estavam com treze e quinze anos.

Há poucos dias, uma vizinha nos convidou para um piquenique. Eu não queria ir, não tinha vontade. No entanto, li nos olhos brilhantes das minhas filhas o desejo que tinham de ir.

Preparei tudo, rodeada pela alegria das duas. O domingo chegou ensolarado, maravilhoso.

O local era muito bonito, próximo a um rio. Um lugar encantador. Logo verificamos que, por causa das chuvas de dias anteriores, o rio estava muito cheio.

As águas rolavam velozes, como se estivessem furiosas por alguma coisa.

Avisei às filhas que não se aproximassem das margens e me envolvi, na organização, com as amigas.

De repente, a gritaria me despertou para o desespero. Um mau pressentimento me apertou o coração.

Todos corremos para próximo do rio e eu vi as minhas duas filhas sendo arrastadas pela correnteza.

Quis me jogar no rio, na tentativa de as resgatar, mas fui impedida pelas pessoas. Estava alucinada de dor.

Mais tarde, fiquei sabendo que minha filha mais nova se debruçara sobre uma pedra levando as mãos à água, a pedra se deslocou e ela foi projetada no rio.

A irmã correra para ajudá-la e escorregou, caindo, também, na corrente.

Elas se foram, Chico. Estou totalmente sozinha, agora. Não quero mais viver. Não tenho mais nada neste mundo.

As pessoas olharam para Chico Xavier. Dos olhos dele corriam lágrimas. Ele se levantou e envolvendo num abraço aquela mãe sofrida, disse:

Minha filha, deixe-me abraçá-la. Existem dores para as quais não temos palavras. Agora, só posso misturar as suas com as minhas lágrimas. Vamos chorar juntos.

*   *   *

Existem, sim, dores tão lancinantes para as quais não há palavras que as possam descrever. Nem acalmar.

Ante elas, podemos oferecer o ombro para que a pessoa ali deposite toda sua dor. Podemos chorar junto. Podemos abraçar e acolher.

Podemos ouvir, em silêncio, a descrição da sua imensa amargura.

Podemos orar, rogando a Misericórdia Divina para quem tanto sofre.

E lembrar que a vida é transitória e que devemos nos preparar para deixar heranças de luz para os que permanecerem quando nos formos, no rumo do grande lar.

Pensemos nisso.

Redação do Momento Espírita, com base na crônica
Existem dores…, de Ana Guimarães, da revista Cultura
Espírita, do Instituto de Cultura Espírita do Brasil,
de novembro de 2016.
Em 23.2.2017.


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